O dia passou rápido hoje. Aliás, começou acelerado. Será que vai chover? Não estou muito bem, não. Eu gosto de chuva. Acho que logo vem guerra por aí. Você leu o jornal hoje? Dizem que solidão mata, acho que a vaidade mata mais. Durmo com dois travesseiros, e você? Ando cheia de achismos. Não sei por que lembrei da conversa na fila no banco, aquelas duas mulheres, o ronco que não as deixava dormir. Acho estranho, até mesmo engraçado, como as pessoas falam da vida privada sem se importar com as outras que estão ao redor. Lá estou eu achando novamente. Uma disse que o marido a cutucava durante a noite para que ela se virasse, ou mudasse de posição, pois o ronco alto e desconcertante dela não o deixava dormir. A outra disse que tinha arrumado um jeito do marido não roncar mais, ganhou uma reza de alguém, de um parente distante, e que a simpatia funcionou. Eu ouvia a conversa com atenção, mas elas não me viam, estavam tão entretidas no assunto em comum que não me viam. Em uma hora de espera na fila do banco você ouve muito, principalmente se for de um tipo calado com estranhos. Ah, uma delas comentou que batia no pé do marido quando este começava a roncar, mas com cuidado para não acordá-lo. Pensei que era amor isso, cuidar do outro. Achei bonito. A outra para não perder a parada remendou dizendo que o marido a chamava de fofa, “você está roncando, fofa”, desconfiei dessa fala, achei realmente uma inverdade, mas me mantive invisível. Alguém ao lado quebrou meu jejum de silêncio e perguntou se eu achava que ia chover, mal tive tempo de responder, pois anunciavam meu número para ser atendida. O dia realmente passou rápido hoje. Fiquei me questionando se ronco durante o sono. Devia ter pedido a reza àquela moça, talvez um dia precise. Estou bem achando que amanhã vai chover. Vai sim.
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