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Meia-noite em Paris (Midnight in Paris), Woody Allen (2011)

Alguns filmes, livros, músicas, peças de teatro ou ópera, entre outras possibilidades que a arte proporciona, podem ter um poder descomunal sobre o receptor. Isso não significa, por exemplo, que o livro é que muda as pessoas, que o livro é o melhor amigo, ou que o livro é bonzinho, como muitos divulgam por aí. O livro não muda ninguém, mas a história que habita nele pode causar um tufão nos pensamentos, quebrar algumas vidraças internas até então intactas ou apresentar infinitas possibilidades de criação. Oportunidades. Arrebatamentos. Pode comover de tal maneira a fazer o receptor repensar seus atos e hábitos. Com o cinema acontece a mesma coisa, não é o longa ou curta-metragem que muda as pessoas é a história que habita neles. Isso significa que não adianta ver uma infinidade de filmes ou comprar uma centena de livros se o coração não estiver aberto às possibilidades e às sensações que a arte possa apresentar. Lembro-me da primeira vez que vi o filme Dogville (2003, diretor Lars von Trier), uns diziam que era chato pela técnica cinematográfica simples e despojada, com elementos teatrais, outros diziam que nos primeiros 15 minutos dormiram, tamanha era a lentidão do enredo. A mim, causou choque a personagem de Grace (Nicole Kidman) e extrema identificação na questão da desumanização da humanidade. Meia Noite em Paris (2011, diretor Woody Allen) me fez questionar velhos hábitos. Em determinada parte do enredo, o personagem central Gil Pender (Owen Wilson) pergunta a Adriana (Marion Cotillard) em que época ela gostaria de viver. A depender da resposta secreta de cada receptor, não vale mais a pena carregar e alimentar velhos pensamentos e atitudes. O Efeito Borboleta (2004, direção de Eric Bress e J. Mackye Gruber) me alertou sobre as pequenas escolhas que podem se tornar grandes catástrofes e na responsabilidade que temos sobre a vida do outro e do quanto podemos causar danos se não tivermos a noção dessa importância. O inverso também é verdadeiro.

filme dogville

Dogville, Lars von Trier (2003).

Outro exemplo é a música, a arte mais consumida entre os brasileiros (44%, segundo pesquisa da Panorama Setorial da Cultura Brasileira 2014). Por não ser visual e sim auditiva (trabalha com o imaginário e com o conhecimento de mundo de cada um), tem um poder instantâneo no humor dos ouvintes. Nas ruas e praças é perceptível o sorriso, a tristeza, a alegria, o semblante escancaradamente apaixonado, que o transeunte faz/traz ao ouvir a música favorita. Há certa curiosidade em saber o que o outro está ouvindo no fone de ouvido particular pela expressão que ele demostra. A depender da memória, ouvir uma determinada canção faz com que a pessoa relembre e sinta o mesmo gosto, cheiro, emoção, vivenciado naquela estação. O cinema, o teatro, a música, a dança, a literatura, entre outras vertentes, nos ajudam a lembrar que somos humanos. Nos salva de nós mesmos.

 

Por Nane Pereira

FONTE: Revista VALEU! Página 54: http://issuu.com/revistavaleu/docs/web/55?e=15372201/32336291
Dezembro/2015

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